Quando eu comecei a ler o livro “vai lá e faz”, de Tiago Mattos, de cara fui surpreendida com o tema “a naturalidade de hoje é o absurdo do amanhã”. Nesse tema, Mattos suscita questões que eram tidas como naturais, no sentido de “comuns”, para as pessoas e para a sociedade e que hoje soam como aberrações. Dentre as questões suscitadas estão a escravidão e a separação da sociedade entre “livres, de pele alva, e escravos, de tez escura”. Cita, ainda, o voto feminino (e a sua voz), a educação infantil (baseada na punição física), a homossexualidade (taxada como doença) … Esses são alguns absurdos atuais que eram tidos como naturais pela sociedade por um determinado tempo (e que, na verdade, ainda merecem muita atenção de todos nós).
Matos finaliza esse tema convidando o leitor a refletir sobre nova forma de enxergar a autonomia do ser humano e eu, na minha ignorância prosaica, fiquei um tempo tentando imaginar o que ainda era natural hoje e que seria um absurdo amanhã…
No curso da leitura daquele livro muitas faíscas de elucidação foram zarpando da minha cabeça em verdadeiros estalos de trovão que me trouxeram para um entendimento sobre como deveria ser um futuro bom para todo o mundo, para toda a sociedade.
Ora, na minha cabeça pareceu muito claro que a cultura da exploração em todos os sentidos (exploração dos recursos naturais, exploração da mão de obra humana, exploração pelo excesso de consumo, exploração do dinheiro público e da coisa pública, etc), que é tida ainda como natural hoje, deverá ser considerada um absurdo amanhã… A leitura daquele livro me fez entender isso e, a partir dessa ideia fiz uma revisão de todas as minhas atitudes enquanto mulher, esposa, mãe, profissional, consumidora e empregadora.
Agora parece óbvio que impactar positivamente todas as nossas relações (profissionalmente, socialmente, ambientalmente) deve ser o propósito de cada um. E as empresas não devem ser excluídas desse propósito, justamente porque sua essência está na forma de gestão das pessoas que a constituem. Uma empresa existe para suprir alguma necessidade da sociedade, que merece ser impactada positivamente por essa empresa.
Tá bom, sei que vivenciamos uma distopia total. Todos sabemos das crises que o mundo, mas especialmente nosso país, passa: crise sanitária, crise econômica, crise institucional e de governança, crise de valores e por aí vai… Mas ainda assim, penso que o mindset da exploração deve ser desprezado e já notamos isso com as ações de grandes e pequenas empresas, além de outros organismos, em busca da assunção das suas responsabilidades social e ambiental.
Dentro das artes, design, arquitetura existe o movimento denominado “neo futurismo”, que justamente busca “um futuro melhor” relacionando a arte, a tecnologia de ponta e os valores éticos para criar uma qualidade de vida superior (Vitor de Bari, designer inovador).
E então aqui vai o meu convite para cada um de nós pensar esse conceito para as nossas vidas e para todas as nossas relações… Precisamos mudar nosso mindset para deixarmos de ser exploradores para impactarmos positivamente todas as nossas relações e alcançarmos uma qualidade de vida realmente superior, iniciando pela revisão de nossos pensamentos e de nossas atitudes… Vamos nessa? 😉
Ótimo texto! Partilho de muitos pensamentos e desconfortos que citastes. Mudar a mentalidade é o primeiro passo para mudar atitudes, instigar essa mudança e participar dela é uma responsabilidade das empresas.