Semana passada acompanhamos a notícia de que Trump teria oficializado a saída dos EUA do Acordo de Paris (compromisso mundial para a adoção de políticas climáticas para a redução de emissão de gases do efeito estufa a partir de 2020), saída anunciada há 3 anos, mas oficializada no último dia 04. Em contraposição, Joe Biden fez promessa de que recolocaria o país no pacto para combater a crise climática.
Não obstante o posicionamento dos EUA sobre a “questão climática”, digo, a nível de governança pública, tenho lido muito sobre mudanças de comportamento de gestores do capitalismo para iniciativas ambientais e sociais.
Tá, eu sei: é o capitalismo buscando fazer algo para o próprio capitalismo (para salvar seus “ativos”). Ok. Mas, estamos falando de ações para uma economia verde… E, penso, já está valendo!
Segundo a BBC, mais de 200 empresários importantes do Reino Unido pediram ao governo britânico um plano de recuperação da Covid-19 que priorizasse o meio ambiente. São empresas como Lloyds Bank, Asda, Siemens, Sky, Mitsubishi, Signify e Yorkshire Water, que querem que esse momento seja usado como um trampolim para impulsionar uma economia verde, aqui entendendo como medidas que cortam as emissões de gases do efeito estufa e estimulam investimentos em projetos como reforma de edifícios, energia eólica, veículos elétricos, melhorias ambientais e aglomerados industriais de baixo carbono, já que são atividades que têm potencial para trazer investimentos e criar empregos.
De outro lado, grandes gestoras de ativos do mundo (como a Black Rock) já sinalizaram pausar investimentos em empresas que não agirem e não apresentarem resultados em relação às mudanças climáticas. É que instituições financeiras em todo o mundo sofrem pressão crescente de acionistas e de ativistas para que retirem dinheiro de indústrias de alta emissão e, desta forma, está-se criando um novo molde de ambiente de negócios para um mundo pós-combustível fóssil. Ações assim aumentam a pressão sobre as empresas para que cumpram as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Falamos de empresários do Reino Unido pleiteando um plano de recuperação baseado na economia verde, mas outros 180 líderes empresariais também incitaram a União Europeia para o que chamaram de Green Deal (pacto ecológico europeu a partir de um plano impulsionado por Ursula von der Leyen para descarbonizar a economia e reconciliar o progresso com a saúde do planeta) e, de outra banda, lá no Canadá, 323 assinantes, representando mais de 2.100 empresas, também peticionaram aos governos federal e das províncias por medidas de estímulo para criação de empregos, incentivo à diversificação econômica e à equidade, à inovação em tecnologia limpa, à redução da poluição do ar, causadora de doenças, e para tornar o Canadá mais resiliente.
Reduzir a emissão de gases estufa é o grande desafio dos países para cumprirem o Acordo de Paris, acordo assinado por 195 participantes (193 países, mais a União Européia e a Palestina). China, Estados Unidos, Índia, Brasil, Rússia, Japão, Canadá e Alemanha figuram como os maiores emissores de gases do efeito estufa. Oficializando sua saída desse pacto, os EUA acabaram integrando o grupo dos países não participantes, com Síria e Nicarágua. A participação dos Estados Unidos nesse acordo é tida como muito importante, já que é um país que exerce muita influência nos demais e que poderia, sim, agir de forma a incentivar o sucesso do Acordo. O Protocolo de Montreal (tratado internacional em que os países signatários comprometem-se a substituir as substâncias que demonstrarem ser responsáveis pela destruição do ozônio) é um excelente exemplo de sucesso em um acordo internacional para o meio ambiente.
Já em nosso país precisamos melhorar o controle de emissão de gases do efeito estufa, administrando especialmente a questão do desmatamento e isso pode ser feito num contexto de desenvolvimento sustentável. Falar desse Acordo em nosso país é muito importante. Agir para alcançar suas metas firmadas é essencial para a manutenção dos ecossistemas e do futuro das próximas gerações. Assim como o resto do mundo, também precisamos exigir medidas urgentes para mitigar o aquecimento global. E um bom começo para cada um de nós é, além de apoiarmos iniciativas nesse sentido, escolher bem o que consumir e de quem se está consumindo e, assim, exercer a nossa pressão sobre as empresas e governos para um mundo mais verde e saudável.
Foto de capa de Alena Koval no Pexels.